a despeito de tudo, então

Sertão da ressaca
“… e não há qualquer transcendência em tudo isso.
………(querino,
no poema la notte)

 

no avesso da noite
a luz insistente
não cruza
horizontes de liberdade

dá-me um copo
de culpa, aliado
sorvida na mesma
companhia crua
castigada nas horas
impassíveis

cada passo ultrapassa
raízes arrancadas
frontes daquela
batalha contra nós mesmos

dá-me um cigarro
a fumaça invade meu
peito [como um deus
cego e bêbado]
ritual do cristianismo
do qual fugimos

tenho uma caneta
desprovida de coração
vontades de fala
silêncio
vontades de corpo
silêncio
vontades de voo
silêncio

abra a janela
rasgando o vento
banhando a vida
blues na vitrola
arranhando os ouvidos
com a impureza necessária

peço muito
cansado de nadar
no raso

quero a profundeza
– avesso do caos –
brotando naquela pétala
do orvalho de nosso olhar.

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